Uma questão aparentemente simples feita ao Shikanai Sensei transformou-se numa profunda reflexão, que aqui compartilhamos com todos aqueles que se inclinaram em adotar a prática das artes marciais não competitivas como o Aikido.
Shikanai Sensei possui mais de 50 anos de experiência no Aikido e é responsável por diversos Centros de Aikido espalhados no Brasil e no exterior, contando com diversos instrutores de diversas formações.
É dedicado ao ensino e é estudioso da Arte Marcial, sempre trazendo novidades e incutindo em nós a importância de transmitir a cultura e educação por meio de prática das Artes Marciais.
No encontro realizado em Brasília, no período 1 a 3 de setembro de 2017, numa entrevista, perguntamos que características Shikanai Sensei considera importante num praticante para se tornar um professor de artes marciais como o Aikido.
Após algum momento de reflexão, disse
que a coisa mais importante é “ter um bom coração”,
ser uma pessoa humanizada.
Em segundo lugar, é transmitir os ensinamentos do seu professor,
para manter a linhagem nos conteúdos que devem fazer parte dos
ensinamentos.
Em terceiro lugar, o aspecto técnico, onde o praticante para iniciar-se
como professor, deveria possuir pelo menos o terceiro Dan e, principalmente,
manter a postura de sempre estar aberto e disposto a aprender. Isto quer
dizer pelo menos 15 a 20 anos de dedicação e comprometimento.
Estes três pontos que extraímos da entrevista
com Shilanai Sensei nos remetem ao artigo “uchidashi e shidashi”, de 1999,
de Nishioka Sensei, que enfatiza o “rei” como o coração
da arte marcial, e é a expressão da humildade.
Na medida em que os praticantes desenvolvem suas habilidades físicas
e atingem altos postos, esquecem aquilo que aprenderam sobre “rei” e podem
se tornar superconfiantes, orgulhosos e donos da verdade, em detrimento
do aprimoramento e desenvolvimento do espírito.
Ele diz no artigo que: em geral, as pessoas não compreendem o que vem a ser um mestre professor, especialmente quando o professor tem um grau avançado ou certificado, podendo se prejudicar pelo crescimento do seu ego, quando o que deve se esperar é pelo crescimento espiritual de ambos, professor e discípulo.
Morihei Ueshiba no seu escrito “Budo”, de 1938, conta que os antecedentes iluminados desenvolveram o verdadeiro budo (caminho marcial) baseado na humanidade, amor e sinceridade. E que o coração do Budo consiste de quatro virtudes espirituais: sabedoria sincera, bravura sincera, amor sincero e empatia sincera.
Ele diz que quando se observa a execução de um artista marcial, seus movimentos revelam o seu nível de desenvolvimento no plano do real e no plano do oculto.
Isto quer dizer que o praticante além de treinar seu corpo, deve utilizá-lo como um veículo para treinar a mente, acalmar o espírito e encontrar bondade e beleza, fomentando nele valores, sinceridade, fidelidade.
Ter “um bom coração”, na formação nossa na arte marcial seria então: a) desenvolver as virtudes espirituais de bravura, sabedoria, amor e empatia sinceras; b) praticar a bondade, sinceridade e fidelidade, produzindo beleza e, c) com o “rei”, ser humilde para respeitar a todos e continuar sempre aprendendo e crescendo, não só fisicamente, mas espiritualmente.
Nelson Takayanagi - AIZENKAI - setembro de 2017
Aizenkai.